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sábado, 13 de fevereiro de 2010

A propósito de denúncias e delações

(No café de estudantes quando se desafiava quem se escondia covardemente por detrás das lapelas dos casacos)


Já eram apontados a dedo
e ninguém se enganava
tinham os olhos como moscas
ouvidos como elefantes
narizes de perdigueiros.

No entanto tinham medo
queriam demonstrar o que não eram
e quedavam-se na caricatura
de velhas quadrilheiras
no trespassar das vizinhas.

Eles tinham medo
mas nós também
daí o desafio
de tomar café a olhá-los nos olhos
a cobri-los do ridículo
que se deve aos abutres que metem medo
mas fogem dos ratos porque roem    roem   roem...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Manuel Buiça e Alfredo Costa, Heróis ou traidores ?


O conto do paladino
defensor da justa causa
o dilema do homem na escolha
do prisma real de observação
herói ou traidor
qual o cognome
na revolução ?

O sangue do povo
o futuro
a honra
o sangue lava
aduba
fortifica
a nova árvore
que grita
 que os seus ramos
têm sombra.

O futuro
que cresce longe
plantado num campo
vermelho-verde
sangue-esperança.

A honra
de erguer o braço
e dizer
PRESENTE...!

Só um prisma
então se pressente
e o dilema
 se desvanece.

Miguel Gomes Coelho - De Coração na Mão -1978





quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A propósito




O formigueiro nas minhas mãos
aumenta sempre que as trompas choram.

Agudo chorar de trompa
som de mil gritos de dor
clamando por água.


De Coração na Mão -1978

domingo, 22 de novembro de 2009

A propósito

Fugaz.

Como a memória das pedras
a palavra
retine no seu amargor
a angústia das mãos sem dedos
das caras sem olhos
nas mentes sem mente.

Como a memória das pedras
a palavra
no seu esplendor
lança nos degelos sucessivos
o eco dos silvos notáveis
a recordação das melhores mãos
que construiram o glaciar.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Mensagem

Chega
   as mãos
      ao corpo.


          Comprime-as
      com força
            contra o peito
 e sente
         que respiras.


Sente
            que RESPIRAS


                  que ainda não estás
                 morto como julgas
               nem abandonado
         como pensas.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Tarrafal começou há 73 anos


Muitos ainda se recordarão da imensa mole humana que acompanhou, em Lisboa, logo a seguir à Revolução, a transladação para o Cemitério do Alto de S. João em Lisboa dos restos mortais dos dos prisioneiros falecidos no Campo da Morte Lenta.
Recordo-me de ter chegado a casa e ter escrito:


Quem disse que os pássaros depois de mortos
se esquecem do cativeiro ?

Quem disse?

Cedo ou tarde haviam
de quebrar-se as algemas
os gritos roucos abafados
as doenças incuráveis.

Cedo ou tarde os heróis
voltariam para sentar-se
no trono das mãos entrelaçadas
que justifica a odisseia.


ou ainda

(ouvindo falar um dos sobreviventes do Tarrafal )


Para que as feridas não sarem
apenas com o fumo do tempo
porque a morte existiu ali
no campo do perpétuo tormento
te recordo quotidiano
em palavras de mar jurando
esse desejo de verde ventre
neste caminho de deserto.

Aqueles que em hino cantaste
- conchas de água no meio da sede -
homens oásis     perenes
onde sempre o ódio se vede
jamais partirão à voragem
de um pragal de sofrimento.


E porque a morte não resiste
a vida persiste
e os vivos e os mortos passam
de abraço em abraço
num arrepio quase faminto
de um infinito que esmaga.


e já passaram cerca de 30 anos...

sábado, 25 de abril de 2009

Há 35 anos

7. (...e enquanto uns de mãos cheias gozavam a prerrogativa de um horizonte aberto
outros sobreviviam em cada minuto vivido .)


O grito retumbou como um rasgão de denúncia.
Correram todos à rua levando
a única arma que os distinguia
o cheiro a sal a cimento a aço
a terra apodrecida
o olhar vítreo no horizonte limitado
mas firma no horizonte sempre reinventado.
Era a Liberdade
a revolução exangue
a espada paladina desembainhada
por sobre as cabeças gritando
que para sempre se haviam fundido
as grades os grilhões e as cadeias
não seriam mais colmeias de gente desesperada.
Era a Liberdade
de se ser homem
ser livre no pensamento
olhar o pão e dizer MEU
porque ganho sem opressão.
Era a Liberdade
de dizer suas as suas mãos
e no delinear de um gesto
um símbolo supremo e simples
ficasse suspenso e dissesse
FUTURO.
Era a Liberdade
de provocar na memória o esquecimento
e de mãos em concha receber
e molhar os olhos de água pura
de um poço subterrâneo de novo aberto.
Era Liberdade
de poder correr ao campo sozinho
e gritar a opressão e a chacina
sem olhar de soslaio as árvores e as plantas
sem desconfiar do próprio ribeiro limpo.
Era a Liberdade
de poder escrever e denunciar
os versos de dor tão idealizados
sem recorrer ao laboratório da mente
e escolher palavras cobertas.
Era a Liberdade
de poder dizer País e Pátria amada
de ser livre e dar aos outros
à luz do dia e da razão
a mão tão franca
outras vezes dissimulada.
Era a Liberdade
e o fim de todas as cadeias
de toda a opressão
de todas as ideias
impostas sobrepostas.
Era a Liberdade !
E na rua
de mãos nuas
o Povo gritava
" Água pura ! Água pura ! "

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

terça-feira, 22 de julho de 2008

A Hora da Poesia- Rádio Vizela

www.mixcloud.com/Radiovizela/hora-da-poesia-entrevista-a-miguel-gomes-coelho-10072019/?fbclid=IwAR095cmi1MHhzKytias_ssHY3hooCm5P2TqODIjm7w...