O Dormidor do Vale
É um poço de verdura onde canta um ribeiro
Arrastando à doida pela erva rasgões
De prata; onde o sol, do alto monte sobranceiro,
Brilha: é um vale ameno na espuma dos clarões.
Um jovem soldado, testa ao vento, caída
A boca, a nuca no agrião azul banhada,
Dorme; está deitado na terra, sem guarida
Pálido na verde enxerga de luz molhada.
Os pés entre os gladíolos. dorme. Sorrindo
Qual menino doente a sorrir, vai dormindo:
Dá-lhe aconchego, ó Natureza, que arrefece.
Nem aos perfumes a narina lhe estremece;
Dorme ao sol, a mão sobre o peito sossegado.
Tem dois buracos encarnados, lado a lado.
Outubro de 1870
Arthur Rimbaud - 35 Poemas de
Relógio de Água 1991
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