quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

1º. Centenário da Implantação da República Portuguesa

"Não se arrancam com facilidade todas as raizes de um regime político sete e meia vezes secular. Caíra quase sem resistência militar, por isso que a fé inabalável de um modesto guarda-marinha, o meu saudoso amigo Machado Santos, soubera sobrepor-se ao momentâneo desânimo e descrença dos seus companheiros de luta mais graduados e ao assomo impotente de reacção de Paiva Couceiro, grande figura de soldado e de português, que apenas se batera pro honore. Mas, pouco a pouco, os monárquicos mais fieis ou mais despeitados foram-se reconpondo da surpresa inicial e deram em fervilhar em actividades conspiratórias, que, depois de inofensivas manobras facilmente debeladas, acabaram por se concretizar num fenómeno emigratório para a vizinha Espanha onde a complacência ou, para falar com mais propriedade, a cumpilicidade dos governos lhes forneceu abrigo e campos de treino fronteiriços, de que partiam para incursões, que redundavam em malogro, se não em fiasco, e para onde regressaram após a derrota com as armas não abandonadas na fuga.
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No entretanto, em dois exercícios consecutivos - os de 1913 e 1914 - Afonso Costa, avocando a si a Pasta das Finanças, conseguira transmudar em "superavit" o crónico "deficit" orçamental, dentro do qual a Monarquia se acostumara a viver, como os peixes se sentem, às mil maravilhas, dentro de água. Fê-lo sem coacções sobre a Nação, sem exageros tributários, que um Parlamento em grande parte hostil lhe não consentiria, quase só por uma mais perfeita ordenação da administração publica e pela consequente compressão das despesas. Duvidaram da autenticidade do fenómeno muitos dos opositores republicanos do notável estadista, isto sem falar nos inimigos da República. Hoje, todos, sem excepção dos situacionistas, reconhecem a veracidade desses "superavits", mas estes últimos não levam a sua sinceridade ao ponto de confessarem que a execução de uma tarefa dessa índole se torna bem mais difícil sem apressão de uma Força Pública inteiramente submetida às directivas dos governantes e sem o auxílio terrorísticvo de uma polícia política carente de escrúpiulos."
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Cunha Leal - CÂNTARO QUE VAI À FONTE... - coisas do tempo presente
Edição de Autor - 1963

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