sábado, 17 de janeiro de 2009

Sobre uma quinta-feira e outras coisas - II

Saír de casa mais cedo, levado pelo interesse de passear pelo Chiado, tomar café na "Bénard" e comer um delicioso "éclair", coisa que não dispenso.
Mas o S. Pedro, ou porque não foi convidado para a visita ou por estar mal disposto por não saber onde tinha deixado as chaves do Céu, enviou cá para baixo, durante toda a manhã, uma chuvada copiosa que me fez falhar todos os meus intentos.
E lá foi à viola o café na Bénard e o delicioso "éclair" e as visitas aos alfarrabistas, coisa da minha grande predilecção, e o passeio agradável entre o Combro e a Garrett que eu tinha idealizado.
Pois cheguei mais tarde ao Chiado por causa do trânsito entre a Politécnica e o Largo de Camões, tentei ainda na Rua da Trindade visitar A Barateira mas a chuvada era de tal ordem que fiquei todo encharcado além de ter ficado com uma vareta do guarda chuva partida .
No caminho para a A Barateira passei em frente da Cervejaria Trindade, sítio onde não entrava há já mais de 30 anos, desde os gloriosos tempos pós-revolução, e pensei, à volta é aqui que tiro a barriga de misérias.
Além do mais, e eu já sabia, existe no seu interior uma colecção imperdível de mosaicos de temática maçónica da autoria de um antigo grande artista lisboeta do ramo, o Ferreira das Tabuletas . E se a visita, à tarde, era ao Palácio Maçónico, almocemos num ambiente condizer.
Encharcado, depois de sair de A Barateira, lá me dirigi à Cervejaria Trindade.
Pensei que tudo não podia ser tão mau e vinguei-me...
Venha lá o bife com o dito a cavalo, as batatas fritas, meia de bom tinto e uma belíssima trouxa de ovos.
Mas não foi um almoço que me entusiasmasse. Detesto almoçar sozinho. Eu sei que estar sozinho não é a mesma coisa que estar só, como estar acompanhado não é o mesmo que ter companhia.
Mas, também, ainda não cheguei a esse extremo.
Entretanto dava-me ao luxo de observar calmamente os muitos paineis de mosaicos que enchem as paredes.
Na realidade, belíssimos e a agradecer a quem durante tantos e tantos e tantos anos os soube preservar malgrado o edifício ter passado tantas vezes de mãos.
Saí e, antes de me dirigir às velhas ruas do Bairro Alto, ainda fui ao Largo Rafael Bordalo Pinheiro, ali ao lado, ver a frontaria em azulejo de um prédio bastante antigo, também com temática maçónica. Vale a pena ir vê-lo.
São coisas agradáveis à vista e até deu para tirar fotografias, que o Santo das chaves atrás referido, resolveu fazer uma pausa para o almoço e ficar com a água para ele.
Dirigi-me então à Rua do Grémio Lusitano, palmilhando aquelas ruas estreitas do Bairro Alto, com aquela calçada de basalto toda desalinhada, uma maravilha para os pés de quem já muito andou na vida, mas com a curiosidade de quem revê espaços por onde há muito não passava, muito embora os tenha calcorreado muito bem noutra época.
E está diferente o Bairro Alto. E diria que para pior.
Bom, mas, entretanto, com mais escorregadela menos escorregadela na calçada molhada da chuva, lá cheguei à porta do Palácio Maçónico, velha casa por fora, degradada à vista, como as demais do lugar, devido às muitas "pixagens" que os transeuntes nocturnos do bairro se distraem a fazer.
Por dentro é uma casa arejada e sóbria mas acolhedora. Perguntar-me-ão se andavam lá dentro de avental ? Não! De secreto não vi nada e o ambiente mais parecia o de um clube privado onde as pessoas se portam com a necessária compustura. Bom ambiente, portanto.
Quanto ao Museu, visitável por qualquer profano que o deseje, é um conjunto de salas bem arrumadas, com inúmeras curiosidades, a que o nosso excelente cicerone juntou uma belíssima aula de história .
A visita, com a aula e a troca de impressões, durou cerca de duas horas e meia. Foi um tempo bem empregue em que se aprendeu e se compreendeu muita coisa de que as pessoas falam sem saber.
À saída o S. Pedro já tinha acabado de almoçar e isto quer dizer que lá nos defrontamos, outra vez, com chuva da grossa. Mas a tarde estava ganha e o dia tinha valido a pena.
Despedi-me dos outros Seniores (Uff !) e dirigi-me calmamente para casa, sem segredos embora tenha estado numa instituição considerada secreta .

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