sábado, 6 de setembro de 2008

No carro eléctrico nº.28

Vem hoje na revista do DN uma reportagem sobre os assaltos perpetrados nesta linha, principalmente ao turistas que têm a pouca sorte de nele entrar.
Posso falar de tal assunto porque, há coisa de uns meses, assisti e intervim numa dessas situações.
Dois rapazinhos estavam a tentar limpar a carteira que um alemão trazia no bolso das calças.
Sentado no banco dos palermas, à rectaguarda, fui assistindo paulatinamente, eu e os outros, ao jogo do empurra entre os dois meninos, até conseguirem isolar o pobre do homem dos amigos que o acompanhavam.
Empurrão daqui, encosto dali, o bolso à disposição da mão, a paragem que estava a chegar e quando iam a meter a luva, este vosso amigo avisou so senhor, em inglês, "CUIDADO COM OS CARTEIRISTAS !..."
De imediato o senhor meteu a mão ao bolso, segurou a carteira e olhou em volta.
O comparsa do "mãozinhas" correu para a porta e saltou para o passeio, uma vez que tinhamos chegado à paragem. O "mãozinhas" ao ver-se descoberto, em vez de se pôr na alheta, resolveu tirar desforço do maldito denunciante e uma vez que ainda estavam a entrar passageiros e a porta da rectaguarda ainda estava aberta, tentou agredir-me, "maldito velho!", mas falhou e levou um calduço de raspão da minha lavra; não contente, e já no passeio, ainda tentou a pontapé atingir-me, já que me tinha deslocado para a porta, mas também falhou como falhou a minha resposta com um chuto.
A porta fechou. O nº.28 continuou a sua marcha, ouvindo eu os impropérios dos malandrins, e retornei ao meu lugar.
Os restantes passageiros, que tudo tinham visto, incluindo a dança dos meninos para limpar o alemão, olharam para mim com um olhar incrédulo.
Este velho tinha desmanchado o golpe dos putos.
O Senhor ao meu lado, que como eu assistira à função, disse-me:
-Isto é uma miséria. Estes gajos fazem o que querem conosco a ver...
Aí eu perguntei-lhe:
-Mas o senhor estava a ver e mais perto do alemão do que eu.Porque não falou ?
Retorquiu-me:
-Ah, sabe, eu sou de Lisboa mas vivo há muitos anos na Madeira...
Nem lhe respondi.
Mas fiquei a saber porque é que no carro da linha nº.28 os turistas e os nacionais são tão assaltados:
-Porque os lisboetas são cobardolas e uns individualistas e só se queixam quando lhes toca pela porta.
Não é comigo não me meto...!
Pois é, e depois digam que eu tenho mau feitio...

5 comentários:

Leonor disse...

Ainda não fui dar o meu passeio no 28, mas como tenho ar de "cabrita" mal amanhada, talvez me safe ;)
Beijinhos
PS: em Roma ia-me metendo numa alhada à conta de uma idêntica ...

Anônimo disse...

Ah, granda cota.
Mas tem cuidado se faz favor!!!

Mipa

Miguel Gomes Coelho disse...

Mipa,
Como sabes não sou nem nunca fui pessoa de violências, mas à frente do meu nariz ?
Naquele dia foi demais, e fundamentalmente, porque o tal "mãozinhas" olhava para mim como que a dizer :
-Eu vou fazê-lo e tu ficas calado...
Errou !
Eu não fiquei calado.
E se o gajo ao ver-se descoberto se tivesse pirado, ainda era como o outro. Agora tentar, ainda por cima, agredir-me, ai isso não !
De resto continuei paulatinamente a viagem e fui à minha vida.
Só contei este episódio por causa da reportagem porque, sem isso, teria ficado caladinho, já que não sou de se vangloriar.

Miguel Gomes Coelho disse...

Mlee,
O passeio é muito giro porque passa por diversos bairros antigos de Lisboa.
O episódio é menor, e só serve para alertar as pessoas.
Bjs.

Anônimo disse...

Interessante relato, louvo a iniciativa de se envolver.

Também tive episódios "electricos". Não de gatunagem, felizmente. Sei que foi num 8. Ou 28 ou 18, nunca lembro para lá do 8.

Uma vez uns meninos saltaram para a traseira do eletrico e puseram-se a arrancar uma aste que por lá era necessária ao movimento do aparelho. Não sei se corriam o risco de choque mas que insistiram no seu acto de vandalismo, isso insistiram. O meu espanto foi não ver uma reacção do motorista. Esperava a comum paragem, a saída do electrico, a advertência e ver os putos correr a rir, contentes pela malandragem. Talvez seja noção de outros tempos. Estes não eram tão malandros, quanto vândalos. E o motorista provavelmente receava uma facada ou pedrada. Seria um dia de trabalho com um desfecho estúpido.

Outra mais recente perturbou-me porque mexe com «pequenas coisas» que considero respeito e educação por e a terceiros.

O electrico vinha cheio e sendo pequeno, cabiam poucos. Ainda assim, apinharam-se para entrar. Estando em cima da hora decidi entrar e fi-lo apenas por caber mais um e na paragem só restava eu. Subitamente atrás de mim alguém mais tenta entrar. Alguém que não estava na paragem durante os 10 minutos em que lá estive e gritou ao motorista para entrar.

Era uma senhora. Foi a única coisa que consegui ver ao virar o pescoço para a esquerda. Nenhum outro movimento além desse era possível. A senhora, vendo que não cabia, insistiu mais. Empurrou, empurrou, abanou, mas estava entalada nas portas. O motorista não lhe disse para sair e entrar noutro. O que, a meu ver, devia ter feito. A senhora disse para se chegarem para a frente. Estando eu à sua frente, tive de dizer-lhe o óbvio, que estava na mente de toda a gente: não havia espaço para avançar.

A senhora empurrou mais e mais e lá conseguiu ficar do lado de dentro. O electrico prosseguiu. Ás tantas a senhora pede-me para chegar mais à frente porque tem calores e não pode estar encostada a alguém.

O motorista riu-se.

Disse-lhe educadamente que, se pudesse avançar, já o tinha feito. E informei-a que me segurava com muita força apenas com 2 dedos aos postes, porque se não fosse assim já tinha ido para cima dela nas paragens.

O motorista olhou-me e fez questão de rir em tom de aprovação.

O electrico parava mas não entrava ninguém e saia apenas um. Avançar era impossível. Fez a maior parte do percurso sem deixar entrar passageiros.

Foi então que o senhor mais alto naquele enlatado de corpos, ao ver um senhor sentado levantar-se, pede que dêm passagem a uma senhora que ali está em muletas para que se sente.

Essa senhora foi a mulher que se expremeu para entrar e estava atrás de mim. Afinal, a senhora tinha muletas. Então para quê se expremeu e insistiu de entrar num transporte onde não cabia mais ninguém?

A senhora se sentou e o electrico prosseguiu, sempre sem receber passageiros e quase sem conseguirmos sair do lugar. Até que as pessoas que esperavam numa paragem quiseram entrar. Perante a vontade e a falta de espaço informei até com um certo humor, que só havia espaço para mais um, pois já tinhamos feito «a experiência». Já estavam à espera à tanto tempo que não aceitaram ficar de fora e reclamaram que conseguiam ver espaço na parte de trás. Eles mesmos ordenaram ás pessoas que se apertassem. E lá conseguiram entrar e eu consegui avançar uns 3 passos da porta.

A minha paragem de saída estava próxima e carreguei para sair. Tinha tentado furar para o fundo mas a quantidade de corpos compressados formavam uma parede imensa que não se deixava penetrar. Avisei que ia sair pela frente, pela facilidade de sair por onde tinham acabado de entrar 3 pessoas.

Não é que ouço o motorista refilar?

- "Você? Você ainda está aqui? Já entrou à tanto tempo! Não sabia ir andando para trás?"

Como se ninguém saiu? Se as pessoas que entraram antes de mim não avançavam? Se cedi um lugar a quem vinha atrás de mim? Era suposto estar já no fundo? Só passando por cima. Por favor...

Já me encontrava com o pé no chão quando ainda o oiço dizer:

"pode levar o dia todo que para mim é igual".

Este motorista relapso, que bem que sorriu para mim quando gostou de me ouvir educadamente informar a senhora penetra as óbvias leis da física e da matéria, estava a agredir-me.

Não foi capaz de abrir a boca e dizer a alguém que não cabe para ficar de fora. Não pediu ás pessoas no fundo do eléctrico que se apertassem para os outros entrarem. Mas decidiu que eu, por alguma razão, ia houvir os seus impropérios...

Estragou-me o dia. Educação e respeito tem cada vez menos espaço na sociedade.

Há! Já agora outro exemplo do que observei muitas vezes nestes eléctricos: Os turistas, tantas e tantas vezes, fazem-se de desentendidos para não pagar o bilhete.

Uma vez vi uns cinco entrar, chegarem-se com as moedas ao pé do obliterador, hesitantes, confusos e desistem. Põem as moedas de volta ao bolso e prosseguem viagem. Mais uma vez, os motoristas nada fazem.

Numa dessas ocasiões disse em inglês:
«You have to buy the ticket with the driver».

E lá foram 5 turistas a pagar o transporte. Senti-me satisfeita. Porque se eu pago, todos pagamos, porquê deixa a Carris os estrangeiros, que até são em grande número, armar este teatro? Alguns podem até ser honestos mas aqueles, já deviam ter entrado em tantos transportes para saber de cor que têm de ter bilhete. Fingiram ficar agradecidos pela informação e eu fingi que a dei para os ajudar, ao invés de querer que pagassem o bilhete.

A Hora da Poesia- Rádio Vizela

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