sábado, 29 de maio de 2010

Nem por se tratar de Cavaco

Cavaco Silva promulgou a lei do casamento homossexual.
Não era de esperar outra coisa face à situação que enfrentava. A lei havia sido amplamente discutida pela sociedade civil e aprovada no Parlamento com maioria inequívoca e sê-lo-ia novamente se o PR a vetasse, sendo obrigado posteriormente a promulgá-la. Era um novo vexame.
Em termos práticos é isto que temos de observar.
Contudo, Cavaco, à sua boa maneira, incapaz de se assumir, veio fazer um discurso vergonhoso tentando justificar a sua atitude e atirando para cima de outrem e por outros motivos, as razões da sua decisão.
Cavaco demonstrou uma vez mais porque não merece ser Presidente da República. Aquilo que queria defender, a sua reeleição, acabou por se transformar como uma arma de arremesso contra si próprio.
Desiludiu os apaniguados e deu mais força ao adversários. É um facto a ter em linha de conta.
Mas também há a posição tomada pela igreja católica e é aqui que, de novo, se volta ao velho tema da ingerência da ICAR nos assuntos do Estado Laico.
Nem por se tratar de Cavaco mudo de opinião. A ICAR , pela voz do Cardeal Policarpo, vem fazer considerações sobre a aprovação da lei e a sua influência nas próximas eleições presidenciais. Não tem qualquer legitimidade para o fazer, é um assunto que lhe não diz respeito enquanto dignitário religioso. Que se manifeste contra a aprovação da lei é uma situação decorrente das suas convicções enquanto cidadão, não enquanto clérigo. Mas pára aí! Não tem de se pronunciar sobre factos da vida civil, como por exemplo as eleições, como do mesmo modo, os estados não se metem nas eleições para bispos, cardeais ou mesmo papas nem nas opções teológicas das crenças..
A recente notícia de haver interesse de alguma direita em arranjar um candidato que, por aquele lado, faça frente a Cavaco, é, também, um exemplo dessa ingerência já que, pelo que se sabe, porviria da atitude do actual PR relativamente  ao não veto da lei do casamento homossexual.
Mais uma vez a ICAR quer continuar a forçar a sua influência na sociedade em termos políticos.  Mesmo que continue a afirmar não ser a favor de partidos confessionais não se comporta como tal. É bom que se lhes faça frente mesmo que favorecendo quem não queremos ver ser reeleito para a Presidência da República.
O Estado Laico assim o exige.

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