Soneto
Homem que vens de humanas desventuras,
Que te prendes à vida e te enamoras,
Que tudo sabes e tudo ignoras,
Vencido herói de todas as loucuras;
Que te debruças pálido nas horas
Das tuas infinitas amarguras -
E na ambição das coisas mais impuras
És grande simplesmente quando choras;
Que prometes cumprir e te esqueces,
Que te dás à virtude e ao pecado,
Que te exaltas e cantas e aborreces,
Arquitecto do sonho e da ilusão,
Ridículo fantoche articulado
- Eu sou teu camarada e teu irmão.
António Botto - Sonetos XIV
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