No DN, de hoje, vêem relatadas as posições de uma série de prelados, umas mais polémicas do que outras mas demonstrando a vontade da Igreja Católica Portuguesa querer vir a interferir no processo legislativo que poderá levar, ou não, à legalização do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
E desde o Bispo de Santarém a dizer
"Não é uma prioridade para o país. Tanto mais num momento em que há uma diminuição de casamentos (?) e uma baixa de natalidade ."
Ao Bispo do Porto
"Tem de se fazer uma análise cuidadosa antes de se tomar uma posição".
Passando pelo Bispo D.Januário Torgal Ferreira
"E porque não se fala dos homossexuais que não defendem o casamento ?"
Do Bispo de Lamego
"Escolher primeiro este assunto não faz sentido porque nem sequer é problema ".
Do Bispo de Viseu
"É triste e lamento que o Governo se vá ocupar de temas que não fazem parte dos problemas fundamentais das pessoas.
...não é tema de relevo para o País ..."
Do Bispo Auxiliar de Lisboa
"Não me pronuncio enquanto a Conferência Episcopal não o fizer ".
temos de tudo.
O Bispo de Santarém pensa que aumenta o número de casamentos e a natalidade proibindo o casamento entre homossexuais - bizarro, não é ?
D. Januário Torgal Ferreira quer saber o que pensam aqueles que não querem saber do assunto - já o vi em melhores dias...
O Bispo de Viseu acha que o problema não é dos fundamentais para as pessoas, porque ele não pode casar
e não será homossexual, porque se não, era importante. O mesmo se aplica ao Bispo de Lamego.
O Bispo Auxiliar de Lisboa, com um simples trajo preto eu nunca me comprometo...
Salva-se, mesmo assim, o Bispo do Porto, que se adivinhando o que pensa, pelo menos tem cuidado com o que diz.
Só se esquecem todos de uma coisa :
Estamos a falar de casamento civil .
Dado Portugal ser uma República Laica, as igrejas em nada tem que se intrometer nos processos legislativos discutidos em Órgãos de Soberania do Estado, nesta caso a Assembleia da República .
A eventual aprovação do casamento entre homossexuais não obriga nenhum homossexual à realização desse contrato civil. Nenhum homossexual católico será obrigado a casar se não o desejar.
Todos os outros, se o quiserem, podem fazê-lo, se não, não o fazem ; tal e qual como já se passa com os casais heterossexuais, onde, além do casamento civil, existe a união de facto se o quiserem declarar ou nenhuma se for esse o seu desejo.
Gostaria a Igreja Portuguesa que o Estado Português se intrometesse nas disposições do Direito Canónico ou na sua forma de organização interna ?
Gostaria que o Estado Português declarasse que os padres e religiosos eram obrigados a casarem-se, fossem homossexuais ou não ?Claro que não ! Nem era admissível .
Então, porque se metem onde não devem ? O casamento, seja que intervenientes tiver, não é um assunto religioso, é um problema civil . Quem for religioso, que sinta necessidade de reforçar essa união por motivos de fé, que o faça, mas o Estado a isso não o obriga.
Limite-se a falar para o seu rebanho e para dentro da sua própria organização e já terão grandes motivos de preocupação.
A Igreja Portuguesa continua a acenar com um poder que já teve mas já não tem e que, cada dia que passa, é cada vez menor. É uma cruzada por razões de sobrevivência.
Esperemos, contudo, embora não acredite muito, que a Igreja venha a ser sensata e não venha a promover agitação entre portugueses, porque, e agora sou eu que o digo, o País tem assuntos muito mais graves para tratar do que se estar a preocupar com o que dizem e pensam meia dúzia de sacerdotes.
6 comentários:
São estas "cruzadas" encetadas pelas instituições religiosas que agudizam os fanatismos... de facto, as sociedades que se querem democráticas e laicas, estão cada vez mais "minadas" por interferências corporativas que visam limitar o impacto social dos direitos cívicos... obrigado pelo texto, T.Mike!
Abraço,
Ana Paula
Ana Paula,
Este texto custou-me um pouco porque não desejava que aparecesse com um sentido panfletário.
Por isso tentei que fosse bastante seco e depurado.
O seu "feed-back", como sempre, para mim, é importante.
Obrigado.
É um texto que põe o assunto no seu devido lugar. A Deus o que é de Deus e a Cesar o que é de Cesar.
Vou fazer link, Miguel... porque vale mesmo a pena! Abraço :)
A questão, penso eu, está na dificuldade em considerar o casamento como um acto civil que, como tal, estará fora da alçada religiosa. É que, em termos históricos, esta situação é muito recente. A Igreja não conseguiu ainda lidar com o facto de um dos seus sacramentos estar, cada vez mais, a perder terreno e já surge um outro problema que é o facto de, sem a existência de um casal homem/mulher, outros sacramentos ficarão comprometidos, diminuindo gradualmente a sua importância na sociedade.
Analima,
pois o problema anda sempre à volta do mesmo.A organização eclesiástica entende que a resolução dos seus problemas, entre os quais um dos principais é o proselitismo, passa pela sujeição das pessoas aos seus intentos.
Não são os promotores da crença que têm de procurar soluções dentro das suas portas. As soluções estão sempre nos outros que devem ser pastoreados a contento, alimentados nos pastos que lhes são destinados, não outros
que eventualmente lhes possa perturbar a disgestão, ao rebanho e aos pastores.
Um abraço.
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