Recordo-me de ter chegado a casa e ter escrito:
Quem disse que os pássaros depois de mortos
se esquecem do cativeiro ?
Quem disse?
Cedo ou tarde haviam
de quebrar-se as algemas
os gritos roucos abafados
as doenças incuráveis.
Cedo ou tarde os heróis
voltariam para sentar-se
no trono das mãos entrelaçadas
que justifica a odisseia.
ou ainda
(ouvindo falar um dos sobreviventes do Tarrafal )
Para que as feridas não sarem
apenas com o fumo do tempo
porque a morte existiu ali
no campo do perpétuo tormento
te recordo quotidiano
em palavras de mar jurando
esse desejo de verde ventre
neste caminho de deserto.
Aqueles que em hino cantaste
- conchas de água no meio da sede -
homens oásis perenes
onde sempre o ódio se vede
jamais partirão à voragem
de um pragal de sofrimento.
E porque a morte não resiste
a vida persiste
e os vivos e os mortos passam
de abraço em abraço
num arrepio quase faminto
de um infinito que esmaga.
e já passaram cerca de 30 anos...
3 comentários:
Gostei muito da forma como evocou esta memória... mesmo muito! Obrigado, T.Mike. Abraço :)
Uma homenagem muito bonita, e também sentida.
Um abraço.
Josefa
Amigas,
obrigado pelos comentários.
É o que nos fica e o que ainda nos faz recordar.
Ainda me recordo bem, foi colossal.
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