terça-feira, 8 de dezembro de 2009

8/12/1894-1930 - Florbela Espanca - Nascimento e Morte



Deixai entrar a morte

Deixai entrar a Morte, a Iluminada,
A que vem pra mim, pra me levar
Abri todas as portas par em par
Como asas a bater em revoada.

Que sou eu neste mundo ? A deserdada,
A que prendeu nas mãos todo o luar
A vida inteira, o sonho, a terra, o mar
E que, ao abri-las, não encontrarás nada !

Ó Mãe ! Ó minha Mãe, pra que nasceste ?
Entre agonias e dores tamanhas
Pra que foi, dize lá, que me trouxeste

Dentro de ti ? Pra que eu tivesse tido
Somente o fruto amargo das entranhas
Dum lírio que em má hora foi nascido !...

(Reliquiae)

3 comentários:

analima disse...

A sua agonia era imensa, como se vê neste poema, e a ela não soube resistir.
Mas antes disso que belos poemas nos deixou!
Um abraço

Benjamina disse...

Lindíssimo e sentido poema, num dia que ficou marcado pelo seu aparecimento e desaparecimento.
Obrigada Miguel (T.Mike)

Miguel Gomes Coelho disse...

Analima e Benjamina,
a ideia desta postagem era mesmo fazer o ponto da confluência de datas - o nascimento e a morte.
É daquelas pessoas que nasceu e morreu e ao olharmos para a vida só se sente amargura, um íntimo agitado, uma doença que a vai consumindo, como só aquelas doenças consomem.
A felicicidade não passou por ali...
Um abraaço para ambas.

A Hora da Poesia- Rádio Vizela

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