segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Viver é partilhar



Viver é partilhar  odeio a solidão
A grilheta da morte quer-me reter ainda
Já não beijo ninguém como beijava dantes
O pão era sinal de ser feliz
O bom pão que nos torna mais quente  o nosso beijo

Como abrigo possível só há o mundo inteiro
Pr'a mim viver  é hoje  responder aos enigmas
É renegar a dor que é cega de nascença
E sempre em pura perda  estrela sem qualquer brilho
Viver  perder-se para reencontrar os homens

Que a palidez do rio encubra a do arroio
Que olhos de maravilha vejam tudo em seu lugar
A miséria acabada e os olhos lavados
Uma ordem crescendo do grão  à flor  à árvore
Andaimes vivos  a sustenter o mundo

A criança a renascer em cada homem e rindo.

Paul Éluard - Poemas Políticos

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